Não se pode aprofundar a idéia de memória sem se referir à
noção de esquecimento. Pois a memória nada mais é do que a escolha daquilo que
se deseja esquecer.
A Zona Portuária do Rio de Janeiro foi palco, em sua
história, da construção de memórias oficiais que relegaram ao esquecimento
aquilo que não se desejava ver, isto é, a realidade das culturas locais,
sobretudo da população negra de escravos e, mais tarde, ex-escravos que
habitaram e até hoje ainda habitam a região.
Em 1843, houve a inauguração do Cais da Imperatriz. Tal Cais
foi criado para recepcionar a Imperatriz Tereza Cristina em seu casamento com
D. Pedro II. Essa memória oficial encontra-se até hoje preservada no nome e no
monumento, um obelisco que contém gravado em sua base o marco histórico da
chegada da Imperatriz. Porém, nos arredores do cais, funcionava um dos maiores
mercados de escravos do mundo.
Porém, a Inglaterra pressionava o Império para abolir a
escravidão, por isso, a escravidão era uma coisa que devia ser escondida nas
entrelinhas ou até esquecida. Por isso, por atrás do glamoroso Cais da
Imperatriz, funcionava o nada glamoroso mercado de escravos e, junto com ele, o
Cemitério dos Pretos novos no qual eram enterrados os negros que pereciam nos
navios negreiros durante as viagens. O curioso é que o mesmo permaneceu
incógnito até o início das obras do Projeto Porto Maravilha. Pois, a partir das
escavações para o túnel é que ele foi encontrado junto a tesouros arqueológicos
que estão sendo descobertos pouco a pouco durante as obras.
O segundo momento de revitalização da área portuária foi
durante o mandato do Prefeito Pereira Passos promoveu uma grande intervenção
urbanística na área do Centro do Rio. Promoveu a derrubada do Morro do Castelo
e, com a matéria prima, foi feito o aterramento de uma grande área da Baía de
Guanabara, dando origem a novas avenidas como Rodrigues Alves, Francisco
Bicalho e Central (atual Rio Branco). E também promovendo o distanciamento do
Cais do Porto das encostas dos morros da região, que deram origem às primeiras
favelas cariocas, como o Morro da Providência. Além disso, foi construído o
Mercado Central da Praça Quinze, mercado que abastecia muitos restaurantes e
quitandas da região e era freqüentado até pelas altas damas da sociedade da
época.
A última grande intervenção urbana na região foi a
Construção do Elevado da Perimetral.
Para que o projeto saísse do papel, muitos prédios históricos da cidade tiveram
que ser demolidos, pois ainda não existia o conceito de preservação do
Patrimônio Histórico. O curioso é que a Perimetral como conhecemos é a terceira
versão de um projeto que originalmente era bem parecido com a via que está em
processo de construção no projeto Porto Maravilha. Não havia elevações. Porém,
a o Governo da Ditadura Militar não permitiu que existisse um túnel que
passasse embaixo do então Arsenal de Marinha. A obra foi iniciada no final dos
anos 50 no governo do prefeito Negrão de Lima (que na década seguinte seria
governador da Guanabara). O transito de veículos na cidade aumentava a cada dia
e a construção do elevado aliviaria as ruas do centro. O primeiro trecho
construído dava-se até a Candelária, a segunda etapa continuou pela Praça Mauá
(contornando o Mosteiro de São Bento e por cima da Av. Rodrigues Alves), a
terceira e última fase foi a sua ligação com a Ponte Rio Niterói, no início dos
anos 70.Algumas pessoas alegam que a construção mudou consideravelmente a
estética do Cais do Porto bloqueando a vista dos navios cargueiros e
transatlânticos que zarpam por ali.A meta era desviar o tráfego intenso vindo
da Avenida Brasil para o centro carioca.A construção da Perimetral vitimou mais
uma vez a história do Rio, acabando com várias pequenas ruas ao redor do Museu
Histórico Nacional, os becos, que vinham desde a época da ocupação do Morro do
Castelo e também o Mercado Municipal.
Foto de Jornal do ano de 1903, já mostrando área do porto, como uma área degradada. |
Foto da área do Cais do Porto, no Rio de Janeiro antigo. |
Venda de escravos. |
Cais do Porto, ano de 1911. |
Obras do Cais do Porto, ano de 1911. |
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