segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Contexto histórico da região do Porto do Rio de Janeiro


Não se pode aprofundar a idéia de memória sem se referir à noção de esquecimento. Pois a memória nada mais é do que a escolha daquilo que se deseja esquecer.
A Zona Portuária do Rio de Janeiro foi palco, em sua história, da construção de memórias oficiais que relegaram ao esquecimento aquilo que não se desejava ver, isto é, a realidade das culturas locais, sobretudo da população negra de escravos e, mais tarde, ex-escravos que habitaram e até hoje ainda habitam a região.
Em 1843, houve a inauguração do Cais da Imperatriz. Tal Cais foi criado para recepcionar a Imperatriz Tereza Cristina em seu casamento com D. Pedro II. Essa memória oficial encontra-se até hoje preservada no nome e no monumento, um obelisco que contém gravado em sua base o marco histórico da chegada da Imperatriz. Porém, nos arredores do cais, funcionava um dos maiores mercados de escravos do mundo.
Porém, a Inglaterra pressionava o Império para abolir a escravidão, por isso, a escravidão era uma coisa que devia ser escondida nas entrelinhas ou até esquecida. Por isso, por atrás do glamoroso Cais da Imperatriz, funcionava o nada glamoroso mercado de escravos e, junto com ele, o Cemitério dos Pretos novos no qual eram enterrados os negros que pereciam nos navios negreiros durante as viagens. O curioso é que o mesmo permaneceu incógnito até o início das obras do Projeto Porto Maravilha. Pois, a partir das escavações para o túnel é que ele foi encontrado junto a tesouros arqueológicos que estão sendo descobertos pouco a pouco durante as obras.
O segundo momento de revitalização da área portuária foi durante o mandato do Prefeito Pereira Passos promoveu uma grande intervenção urbanística na área do Centro do Rio. Promoveu a derrubada do Morro do Castelo e, com a matéria prima, foi feito o aterramento de uma grande área da Baía de Guanabara, dando origem a novas avenidas como Rodrigues Alves, Francisco Bicalho e Central (atual Rio Branco). E também promovendo o distanciamento do Cais do Porto das encostas dos morros da região, que deram origem às primeiras favelas cariocas, como o Morro da Providência. Além disso, foi construído o Mercado Central da Praça Quinze, mercado que abastecia muitos restaurantes e quitandas da região e era freqüentado até pelas altas damas da sociedade da época.

A última grande intervenção urbana na região foi a Construção do Elevado da  Perimetral. Para que o projeto saísse do papel, muitos prédios históricos da cidade tiveram que ser demolidos, pois ainda não existia o conceito de preservação do Patrimônio Histórico. O curioso é que a Perimetral como conhecemos é a terceira versão de um projeto que originalmente era bem parecido com a via que está em processo de construção no projeto Porto Maravilha. Não havia elevações. Porém, a o Governo da Ditadura Militar não permitiu que existisse um túnel que passasse embaixo do então Arsenal de Marinha. A obra foi iniciada no final dos anos 50 no governo do prefeito Negrão de Lima (que na década seguinte seria governador da Guanabara). O transito de veículos na cidade aumentava a cada dia e a construção do elevado aliviaria as ruas do centro. O primeiro trecho construído dava-se até a Candelária, a segunda etapa continuou pela Praça Mauá (contornando o Mosteiro de São Bento e por cima da Av. Rodrigues Alves), a terceira e última fase foi a sua ligação com a Ponte Rio Niterói, no início dos anos 70.Algumas pessoas alegam que a construção mudou consideravelmente a estética do Cais do Porto bloqueando a vista dos navios cargueiros e transatlânticos que zarpam por ali.A meta era desviar o tráfego intenso vindo da Avenida Brasil para o centro carioca.A construção da Perimetral vitimou mais uma vez a história do Rio, acabando com várias pequenas ruas ao redor do Museu Histórico Nacional, os becos, que vinham desde a época da ocupação do Morro do Castelo e também o Mercado Municipal.
Foto de Jornal do ano de 1903, já mostrando área do porto, como uma área degradada.


Foto da área do Cais do Porto, no Rio de Janeiro antigo.


Venda de escravos.


Cais do Porto, ano de 1911.


Obras do Cais do Porto, ano de 1911.



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